segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Alice Aycock



Starsifter, Galaxy NGC 4314. 2005

http://www.aaycock.com

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Degolações # 1


Arnulf Rainer


Andy Warhol


Rembrandt


Andrea Solario

Niemeyer em Ponta Delgada?




...Ver para Crer!....

mais um interessante projecto para, ou ficar no papel, ou só ser realizado em 2035!

It's TIME!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Germania (2008)*



André Butzer, Sem título, 2008.



André Butzer, Sem título, 2008.



*The Saatchi Gallery, 2008.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Elogio da Distância

Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.

de Paul Celan in «Sete rosas mais tarde»

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sem título (Meu)




After Dash Snow

Urinol

As melhores horas da nossa vida,
as mais contentes, passámo-las
num urinol qualquer, vendo correr o mijo
capaz e fluente numa certeza de louça
branca, amarela ou cinzenta.
Instantes e pouca opressão,
cumprindo embora um estúpido dever,
desses do corpo, sob o silêncio infecto de Deus
- que talvez fosse aquele puxador
de autoclismo que um dia me ficou na mão,
numa taberna discreta ao Poço dos Negros.
Guardei-o ainda alguns meses, mas de Deus
como de um autoclismo, de tudo
acabamos por nos cansar. Até de poemas.

São ruas velhas assim, onde paira
a suposição grosseira de um urinol
divino e sombrio, que nos fazem aceitar
esta voraz forma de extremínio. O nosso,
incandescente, num apogeu de melancólicas
retretes onde os insectos e bactérias do acaso
nos distraem o olhar
embaciado pelo abuso da lixívia.

Uma lucidez pegajosa, toldando a idade
das mãos invariavelmente senis.
Como se bastassem, ou fossem mesmo
excessivas, certas baixas certezas de cão,
desastres menores. Sabendo-se de fonte
segura que o mijo pode ser um poema.
Um poema cansado do que antes foi vinho,
a suicidar-se agora - contente e tão triste -
do vazio evidente de uma louça
branca, amarela, sagrada.

Pequenas Alegrias e no entanto as maiores,
essas mesmas que bastarão,
que terão de bastar,
no dia
em que formos
morrer.


de Manuel de Freitas in «Os infernos artificiais» (2001)

Nobel 2009: Herta Müller



É positivo que o Nobel surpreenda! Ilustre desconhecida a Descobrir: Herta Müller. Mais do que a sua prosa, é a sua poesia que desperta em mim curiosidade...Espero que o João Barrento (caso ainda não o tenha feito) traduza a sua obra. lol. É sempre bom ler as suas traduções.

(bolas...Sei que tenho que aprender alemão...lol)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Eu quero, Eu quero

De boca aberta, o deus recém-nascido
imenso, calvo, embora com cabeça de criança,
gritou pela teta da mãe.
Os vulcões secos estalaram e cuspiram,

a areia esfolou o lábio sem leite.
Gritou então pelo sangue paterno
que agitou a vespa, o tubarão e o lobo
e veio engendrar o bico do ganso.

De olhos secos, o inveterado patriarca
ergueu seus homens de pele e osso:
farpas sobre a coroa de fio dourado,
espinhos nas hastes sanguentas da rosa.

de Sylvia Plath in «Pela Água»

Chinese Art # 3

Chinese Art # 2

Chinese Art # 1

Viva a Publicidade # 2

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Un Bel Di Vedremo

Un bel di vedremo
Levarsi un fil di fumo sull´estremo
Confin del mare.
E poi la nave appare.
E poi la nave bianca
Entra nel porto, romba il suo saluto.
Vedi? E´ venuto!
Io non gli scendo incontro. Io no. Mi metto
Là sul ciglio del colle e aspetto, aspetto
Gran tempo e non mi pesa
La lunga attesa.
E... uscito dalla folla cittadina
Un uomo, un picciol punto
S´avvia per la collina.
Chi sarà? Chi sarà?
E come sarà giunto
Che dirà? Che dirà?
Chiamerà Butterfly dalla lontana.
Io senza far risposta
Me ne starò nascosta
Un po´ per celia, e un po´ per non morire
Al primo incontro, ed egli alquanto in pena
Chiamerà, chiamerà :
“Piccina-mogliettina
olezzo di verbena”
I nomi che mi dava al suo venire.
Tutto questo avverrá, te lo prometto.
Tienti la tua paura,- io con sicura
Fede lo aspetto.



de Madama Butterfly de Giacomo Puccini, 1906.



Giacomo Puccini

A mensagem

Devolve os meus olhos extraviados de desejo,
que, ah, demasiado tempo se fixaram em ti.
Mas dado que contigo aprenderam tanta maldade,
Maneiras afectadas
E falsas paixões
Que foram
Tornados
Inaptos para bem ver, guarda-os mais um pouco.

Devolve de novo o meu inocente coração,
Que nenhum mau pensamento podia macular.
Mas se foi ensinado pelo teu
A troçar
De protestos
E a trair
Palavra e jura
Guarda-o então, que já nada tem de meu.

Contudo devolve o meu coração e olhos
Para que conheça e possa ver tuas mentiras,
E possa rir e divertir-me quando tu,
Angustiada,
Desfaleças
Por alguém
Que te não queria,
Ou prove ser tão falso quanto tu és agora.

de John Donne in «Poemas Eróticos» (Assírio & Alvim)

Serás violada

Serás violada. Na morte ou na transparência das flores
há-de crescer o pesado e antigo alimento que veio incendiar
as plantas e transformá-las na cinza de cada inverno.

Junto ao caminho das últimas estrelas vemos o teu corpo;
na rosa que fica entreaberta pelo mar, começou o sangue
onde regressa a tua nudez apenas ferida pelo sol.

Eu sou o sol. Nos lábios nascem as sílabas de pedra
como se os relógios nos jardins medissem as nossas sombras
para receber das tuas mãos o anel de cada hora.

Verás descer pelos muros das casas as mesmas flores esquecidas
e a noite chegará com o voo das aves prisioneiras;
uma criança, no teu ventre, será apenas um sinal de destruição.

O amor desperta entre a cruz que suspendemos no calor dos nossos corpos
e, lentamente, adormecerás sob as cadeias trazidas pela chuva
quando o tempo for para ti jovem e prisioneiro como a luz...


de Fernando Guimarães in «Como Lavrar a terra».

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tippett - A child of our time (1939-41)

Faixa 8: Chorus & Soli

Steal away, Steal away, Steal away to Jesus;
Steal away, Steal away home -
I han't got long to say here.

My lord, He calls me, He calls me by the thunder,
The trumpet sounds within-a my soul,
I han't got long to say here.

Green trees a-bending, poor sinner stand
a-trembling,
the trumpet sounds within-a my soul,
I han't got long to stay here.

Steal away, Steal away, Steal away to Jesus;
Steal away, Steal away home -
i han't got long to stay here.

Joyce Carol Oates - Nobel 2009?????

No ano da reconcialiação do Mundo com a América haverá um nobel americano? O efeito Obama trará o nobel para a America? Obama já perdeu Chicago 2016, mas pode com Joyce Carol Oates conquistar o Nobel, muito mais do que com Roth. Eis a minha Aposta: Joyce Carol Oates! Se eu perder a aposta...bom... que o vencedor seja outro que admire!


Cristo torturado por monstros



da «Legenda Aurea» do século XV de Jacobus de Voragine

Kiril karabits



in «BBC Music Magazine» September 2009.


com maestros destes quem não gosta de música clássica? lol

Viva a Publicidade 1

Lúcifer

(...)

Ninguém
dirá o estrondo deste pensamento, pensamento
que entra pelos dedos, que atravessa o corpo
para o esmagar do próprio peso. Como flecha
quebrando no ar, incapaz de conter
a tensão do arco.
A curva morada dos gestos é rompida,
e há qualquer coisa à solta
dentro das mãos.

(...)

de Vasco Gato

«A Palidez da memória»

«Entradas para o vazio»

Nenhuma rosa, nenhum cravo

Poema em: «O diabo»

«Keine Rose, keine Nelke
Kann blühen so schön,
Als wenn zwei verliebte Seelen
Zu einander thun Stehn.»


«Nenhuma rosa, nenhum cravo
pode florescer com tanta beleza
como duas almas enamoradas
vivendo uma para a outra.»

de Marina Tsvietaieva

domingo, 4 de outubro de 2009

Solidão

Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borracha
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. «É um mundo impenetrável», diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais existe para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.

de Nuno Júdice in «Pedro, Lembrando Inês»

Com que voz chorarei meu triste fado

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.



de Luís de Camões

Sinfonia nº25 em Sol menor, K. 183

(todo um universo num denso verso)


Eros de 1911

a Egon Schiele

A poética do tamanho
é ter em mãos, sempre apontado,
o desejo de perfurar
densas regiões escuras
onde nem o sol penetra.


Miles Away

I just woke up from a fuzzy dream
You never would believe those things that I had seen
I looked in the mirror and I saw your face
You looked right through me, you were miles away

All my dreams they fade away
I'll never be the same
If you could see me the way you see yourself
I can't pretend to be someone else

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we're at our best when we're miles away

So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away

When no one's around then I have you here
I begin to see the picture, it becomes so clear
You always have the biggest heart,
When we're six thousand miles apart

Too much of no sound
Uncomfortable silence can be so loud
Those three words are never enough
When it's long distance love

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we’re at our best when we're miles away

So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away
So far away

I'm alright, don't be sorry, but it's true
When I'm gone you'll realize
That I'm the best thing that happened to you

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we're at our best when we're miles a-a-away...

You always love me more, miles away
I hear it in your voice, we're miles away
You're not afraid to tell me, miles away
I guess we're at our best when we're miles away

Silêncio

Para quê repetir o teu nome? Adão, rosa, Eva ou Cristo
são apenas vestígios, movimento de lábios no interior de uma concha
onde o mar se reúne à sua pronúncia. Contentemo-nos com o simples
fulgor dos nossos corpos, esta luz que ficou dividida em cada onda.

Morremos, um dia, crucificados nessa palavra? Só porque vieste
dizer o mesmo nome, estão agora mais próximos os nossos rostos
e, juntos, existiremos graças à seiva que levemente os percorre?
Nada mais somos que sementes completas e límpida, ignoradas pelos gestos...

Depois uma flor descreverá o seu peso visível, a conjugação dos estames
e do gineceu. Assim a memória recontrói o movimento, as suas pétalas,
o orvalho que outrora sentimos descer, enquanto sozinhos
apenas habitávamos o nosso silêncio, uma cidade sem lábios.


de Fernando Guimarães in «Os habitantes do Amor» (1959)

sábado, 3 de outubro de 2009

Não nos deixeis cair na ...

Não nos deixeis cair na curiosidade dos outros,
na piedade dos outros ou, pior, de nós mesmos.
Livrai-nos de sermos eternamente jovens,
mas também nados-velhos, mortos-vivos.
Livrai-nos sobretudo de nos jactarmos.
Não nos deixeis cair nas ciladas
daqueles que só se desculpam ou nunca se desculpam.
Não nos deixeis cair na tentação de corrigir a vida
quando tantas coisas nos morrem
e morrem às nossas mãos ou pela nossa memória.
Livrai-nos de falarmos em nome dos outros,
dai-nos cada dia a lembrança de também sermos outros
e não nos perdoeis nunca se o esquecermos.

de Nuno Rocha Morais (1973- 2008) in «Últimos Poemas».

Epístola para um cisne

Cisne, que não conheces na água o teu reflexo verde
quando sob o teu corpo é dia e o sol afaga medo
ou quando do teu porte há a sombra negra igual
a tudo o que está negro, e é noite, e abandono e medo.
Nem concebes o amor, nem leda, nem sequer eu mesma
que te amo no poema e temo o canto imaginado
que não cantaste agora ou não ouvi, de madrugada
quando a minha mãe morta era somente insone.
Nunca viste a beleza, nem a vida e os lábios
que sopram as primeiras e últimas palavras, ou
o hálito que sai em voz da dor mais desolada.
Nem a doença, a morte e os olhos sem imagens
do ar e das cores várias viste em que tu vogas branco.
É falso que celebres sozinho a tua morte e o fim,
se não sabes que só o teu outro cisne se perde.
Mas quando vi insone e logo morta a minha mãe
estou certa de que a cega, a muda, falsa ave cantou.

de Fiama Hasse Pais Brandão in «Epístolas e Memorandos» (1996)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Não sou daqui. Mamei em peitos oceânicos

VIII

Não sou daqui. Mamei em peitos oceânicos
Minha mãe era ninfa meu pai chuva de lava
mestiça de onda e de enxofres vulcânicos
Sou de mim mesma pomba húmida e brava.

De mim mesma e de vós, ó capitães trigueiros
barbeados pelo sol penteados pela bruma!
Que extraístes do ar dessa coisa nenhuma
A génese a pluma do meu país natal.

Não sou daqui das praias da tristeza
do insone jardim dos glaciares
levai minha nudez minha beleza
e colocai-a à sombra dos palmares.

Não sou daqui. A minha pátria não é esta
Bússola quebrada dos impulsos.
sou rápida Sou solta Talvez nuvem
Nuvens minhas irmãs que me argolais os pulsos!
Tomai os meus cabelos Levai-os para a floresta.

É lá que o meu amigo pastor de estrelas pasce
O marulho das folhas com pássaros nas vozes
O sol adormecido nos braços da giesta
A manhã rarefeita na corrida do alce
O luar orbitado no salto da gazela
Os animais velozes do sítio onde se nasce...

Levai-me, peixes da minha pele itinerante!
Quero ir à pesca colher no espelho da laguna
O lírio da nudez a perdida inocência
O coração do bosque a dar-se sem penumbra
visto através da minha transparência.

Levai-me, ó minhas mãos branco exílio de ramos!
meus dedos virtuais folhas de palma!
Sois os órgãos sensíveis da choupana
Onde quero deitar a minha alma.

Levai-me, olhos meus implícitas montanhas
Florescência de cumes para poisarem águias!

Quero ter pensamentos que me cheirem a lenha
esfregar o espírito em plantas aromáticas
uma alma com pétalas guerrilheiras selvagens

Abertas a uma luta de prata verdadeira
Uma alma que sej verde que tenha asas
E dance nua para os deuses da fogueira...

jogai, jogo do arc laço azul infância coisas
que o desencanto confisca e abandona na cave!
como uma criança joga papagaio jogai
Este farrapo de ânsia poeira da cidade
onde ninguém tem pressa de ser ave;

E tu, anjo de pedra do meu grito! Anjo
esculpindo em pranto seco! Anjo enxuto!
Tu que me afogas o olhar no infinito
e as mãos no lodo dum gesto irresoluto

tece, ó arranha de luz no esconso da garganta!
coração de andorinha estrangulada!
O luar o jardim a cigarra que canta
O leito de verdura para eu me dar à esperança,
rosa que aspiro num esquivo vão de escada.

de Natália Correia