terça-feira, 13 de abril de 2010

Memória Hermética de Retrovanguarda

a Kurt Schwitters



MEMÓRIA MEMOR ME
MENTE ENTE ECO DE
CINGINDO INDO MEMOR DI AL
DE MEMORANDO ANDO MEMORÂNDUM
SEM IDO, SEM TI, SEM SENTIDO.
MEMÓRIA INSCRITA ITA DO I.

***

É urgente o sentido!
Quebrar, colar, perfurar
Rios, memórias, histórias:
Primeiro estilhaçar palavras de vidro
Sem sentido, sem imagem
Numa névoa semi-escura, semi-opaca.
Colar, depois, o tu e o eu a palavras livres
E pela noite dentro perfurar com ou sem
Ido o tu no eu, o eu no vós, o vós no eu
Criando histórias que tatuem o tempo.

***

Veio o festejo
E o escorregar na inevitabilidade do adeus
A lágrima do Tempo.


(Publicado na Revista Trama Nº1)

Citação #3

«O universo da arte deixou de ser um «antimundo», pois participa plenamente nas leis do sistema mediático e económico»

Gilles Lipovetsky e Jean Serroy «A cultura-Mundo - Resposta a uma sociedade desorientada», janeiro 2010.

Thomas Adès

Novas Obras de Adès, Cd 2010:

-Tevot (2007).
-Violin Concerto «Concentric Paths» (2005)
-Three Studies from Couperin (2006)
-Overture,Waltz and Finale from «Powder Her Face» [1ºOpera de Adès (1995)] (2007)



uma real inspiração quando o sol adormece!

No país no país no país ...

no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho que bom é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e no país no país no país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escrea com ela, só até à ilharga,
a grande história do amor só até ao pescoço

e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora aí está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons e abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)
diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivos de obras.
É relativamente queda de água
e já agora há muito não é doutra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato.


de Mario Cesariny in «Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano» (1952)

``Amen´´

Corrupção escorrendo pelo quarto podre;
Sombras no papel amarelo da parede; em espelhos escuros curva-se
a tristeza ebúrnea das nossas mãos.



Pérolas pardas correm pelos dedos finados,
no silêncio
abrem-se os olhos azuis de papoila de um anjo.



Azul é também o anoitecer;
a hora da nossa morte, a sombra de Azrael.
que escreve um jardinzinho pardo.


de Georg Trakl in «Poemas» versão de Paulo Quintela


Poema de Retrete



Não te esforces, cabrão!
Roupa langonha.
Tony Harrison in «V»



De porta fechada para ocultar a
Minha face
Enquanto ouço ao longe os grilos
Cago-me de consciência limpa.

De tripa limpa em sintonia
Com a minha falta de memória
Lá fui a comissões e inquéritos:
Posso ou não escrever «cagar» neste poema?

Paleio e Paleio e mais
Paleio e ninguém me diz
«Pode» ou «Não pode»
Em retretes digo «cago-me para vocês»
Ocultado está o meu rosto
Em salas em U limito-me a soletrar «WC»
Tenho o rosto a descoberto!

…um momento…

Aquele não é o primeiro-ministro de
Caralho na mão a foder os
Mentirosos de consicência limpa?

Ah corruptos, cus cagados
Ratazanas da crise!
Ah se eu fosse a crise
Fodilha-vos a todos meus cabrões
De Consciência limpa!

…Nova mensagem de
…Satanás22@hotmail.com:

«Não ouvi nada, não vi nada,
Não sei de nada, não disse nada,
Não senti nada, não tenho consciência
De Nada. Nada. Falas de quê?
P.s- convidados a proteger XD!
Nada X 7 hemm! »

A merda é tanta nas retretes do Poder
Que nos cega os olhos!