Não nos deixeis cair na curiosidade dos outros,
na piedade dos outros ou, pior, de nós mesmos.
Livrai-nos de sermos eternamente jovens,
mas também nados-velhos, mortos-vivos.
Livrai-nos sobretudo de nos jactarmos.
Não nos deixeis cair nas ciladas
daqueles que só se desculpam ou nunca se desculpam.
Não nos deixeis cair na tentação de corrigir a vida
quando tantas coisas nos morrem
e morrem às nossas mãos ou pela nossa memória.
Livrai-nos de falarmos em nome dos outros,
dai-nos cada dia a lembrança de também sermos outros
e não nos perdoeis nunca se o esquecermos.
de Nuno Rocha Morais (1973- 2008) in «Últimos Poemas».
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