Para quê repetir o teu nome? Adão, rosa, Eva ou Cristo
são apenas vestígios, movimento de lábios no interior de uma concha
onde o mar se reúne à sua pronúncia. Contentemo-nos com o simples
fulgor dos nossos corpos, esta luz que ficou dividida em cada onda.
Morremos, um dia, crucificados nessa palavra? Só porque vieste
dizer o mesmo nome, estão agora mais próximos os nossos rostos
e, juntos, existiremos graças à seiva que levemente os percorre?
Nada mais somos que sementes completas e límpida, ignoradas pelos gestos...
Depois uma flor descreverá o seu peso visível, a conjugação dos estames
e do gineceu. Assim a memória recontrói o movimento, as suas pétalas,
o orvalho que outrora sentimos descer, enquanto sozinhos
apenas habitávamos o nosso silêncio, uma cidade sem lábios.
de Fernando Guimarães in «Os habitantes do Amor» (1959)
domingo, 4 de outubro de 2009
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