Serás violada. Na morte ou na transparência das flores
há-de crescer o pesado e antigo alimento que veio incendiar
as plantas e transformá-las na cinza de cada inverno.
Junto ao caminho das últimas estrelas vemos o teu corpo;
na rosa que fica entreaberta pelo mar, começou o sangue
onde regressa a tua nudez apenas ferida pelo sol.
Eu sou o sol. Nos lábios nascem as sílabas de pedra
como se os relógios nos jardins medissem as nossas sombras
para receber das tuas mãos o anel de cada hora.
Verás descer pelos muros das casas as mesmas flores esquecidas
e a noite chegará com o voo das aves prisioneiras;
uma criança, no teu ventre, será apenas um sinal de destruição.
O amor desperta entre a cruz que suspendemos no calor dos nossos corpos
e, lentamente, adormecerás sob as cadeias trazidas pela chuva
quando o tempo for para ti jovem e prisioneiro como a luz...
de Fernando Guimarães in «Como Lavrar a terra».
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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