Sem que do seu aperto sentisse o gotejar da sua dor.
(O espelho quebrou-se, atirado em movimentos circulares,
A bola atingira com intensidade moderada a janela aberta,
Indo de encontro à origem da vaidade).
Bicho, este teu deus que te devora leva-te ao abrigo
Dessa capa envenenada pelos horrores do dia claro.
Se eu morrer, se eu morrer no crepúsculo desse dia
Quero ver ante mim os ossos daquele nojento ser,
O do joelho gordo, e nele pisar o meu último palavrão.
Mas a ti bicho quero ver-te morder os meus dedos dos pés
Com toda a tua força e se puderes aperta-me os punhos
Para que a dor me mantenha acordado.
Bicho morde-me os dedos das mãos até que no crepúsculo
Desse dia possa ver a minha musa. Senhora de mim.
* * *
Senhora, que ouviste com fervor o apelo dos que de mim
Mal desejam, ouvi-os e beijai-os as mãos.
Esses poetas incógnitos que ao meio da tarde
Espancam o sangue de ninhadas de cães,
Enegrecidos pelo frio de ventos gelados,
Calar-se-ão na tua passagem pelo rio.
* * *
Deixaste de rir na ribeira sem que pudesse beijar-te as faces.
No crepúsculo deixei-te no meio da fria imensidão,
O teu punho apertava o meu, a tua força gotejava no meu suor
E inseguro não soube conter-te as lágrimas.
Esses teus Punhos sedentos de garra deixei-os na beira do teu rio.
Onde os bichos beijam-te os seios envelhecidos
Onde os bichos mordam a tua carne
De punhos serrados com força
E sem que uma lágrima escorregue de mim
eu verei
A tua face Lamarim no crepúsculo interminável desse dia
Neste crepúsculo interminável de hoje
Quero eu morrer quando a maré alta vier apagar a tua imagem.
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