Estamos em 2004. Para marcar a minha despedida de S.Miguel preparo durante todo o primeiro trimestre de 2004 o projecto que se iria chamar «Artikulations for Ligeti». O projecto da futura exposição, que deveria decorrer em duas salas do Posto de Turismo da Ribeira Grande, constituía uma série de desenhos A3 monocromáticos, cujo objectivo seria a recriação visual de uma peça de Ligeti (1923-2006)chamada «Artikulation for tape». As leituras nos anos anteriores a 2004 sobre Paul Klee e sobre Kandinsky inspiraram-me e contribuiram para que a minha paixão pela música erudita aumentasse. A descoberta da música clássica do segundo pós-guerra por volta de 2004 era para mim um forte incentivo à exploração das potencialidades da música como meio de inspiração/ transposição para o universo visual do desenho/pintura. Sem querer recorrer à imitação fácil dos mestres atrás referidos, procurei explorar novas soluções. Nesse Contexto, ligeti, que ainda era vivo em 2004, surgiu-me como uma autêntica bomba. A Composição «Artikulation for tape» pelo seu poder de sedução e pelo seu título constituiram a inspiração base de todo o projecto. A exposição foi marcada para Agosto, um mês antes de iniciar a minha licenciatura em historia da Arte no Porto. Apresentado o projecto e aprovado pela entidade competente foi na última hora desmarcada a exposição pela entidade Municipal com a desculpa de que outro projecto ja tinha sido aprovado para a mesma dada e mesmo local. O projecto «Artikulations for Ligeti» foi desqualificado, desvalorizado e colocado de lado. Os desenhos foram dispersos e o projecto global nunca foi realizado. A música original de Ligeti estaria no espaço a ser tocada enquanto decorresse a exposição.
Desde 2004, o meu fascínio e admiração por Ligeti só poderia aumentar progressivamente. Assim, foi com tristeza que em 2006 tomei conhecimento pela comunicação social da morte de Ligeti. Morrera um génio contemporâneo, Mas felizmente resta-nos a sua música.
Do projecto restou-me apenas a vontade de um dia realiza-no na integra, sem que a ignorância municipal, seja onde for realizado, não possa interferir. O meu projecto foi substituído por pinturas de flores à impressionista.
Enquanto perdominar a ignorância e desconhecimento face à arte contemporânea neste páis, continuaremos a ser um País de Pobres de espírito. Abram as suas Mentes à mudança, ao desconhecido, ao novo, ao híbrido, ao absurdo!
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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"O meu projecto foi substituído por pinturas de flores à impressionista." Pinturas impressionistas que causam impressão, provavelmente feitas até por uma dona de casa qualquer, que estando desocupada tirou um tempinho para um curso de pintura. Curso de pintura esse, provavelmente dado por um professor de Educação Visual que se lembrou de ganhar uns trocos. Note-se ainda, que essa dona de casa desocupada (e talvez até desesperada) provavelmente é casada com algum industrial do município, com um vereador, um deputado ou o dono do tasco onde o Sr. Presidente da Câmara vai tomar o seu café da manhã.
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